junho 21, 2011

O ponto Zabriskie


Zabriskie Point - 1971

de Michelangelo Antonioni


Pra nós tudo começa com a exposição, como alguém seguindo Colombo de perto em seu primeiro vislumbre dos índios.

Quem é o líder? Quem é seu deus? A câmera esquece sua natureza e propósito, é primeiramente uma lente de aumento, alimentando a curiosidade de um questionador.

Talvez por Antonioni não fazer parte do contexto, geograficamente falando, ele assuma essa perspectiva de um cientista examinando padrões, dividindo seus personagens em unidades cada vez menores para finalmente descobrir quem são.

O discurso é tão fantástico e cuidadosamente desenvolvido que evidencia as contradições de se evocar líderes revolucionários do passado para guiar uma causa amplamente dissonante. O problema racial do fim dos anos 60 de fato podia influenciar uma revolução, mas por qual razão os ‘brancos’ lutariam? Que bandeira levantariam?

Zabriskie Point é de fato um documento do desejo ‘explosivo’ por mudança de uma geração que inicialmente não possuía ideais comuns, sem elos reais além da repentina consciência do todo, cimentada pela estréia na vida adulta, tão chocante e crua quanto ser acordado por um copo de água gelada.

O filme é então sufocado pelas cruas exposições de marcas cravadas ou penduradas em todo o espaço livre da civilização. Tudo é possuído, tudo é ditado e talvez nossos heróis sentiram isso já que, durante todo o filme , exemplificaram a antítese de tais noções.

É claro que Antonioni queria evidenciar os dois personagens principais, e quando o faz, o faz não como um cientista faria, mas como um poeta. Mark é um cara comum vivendo sob os efeitos das grandes mudanças mentais/econômicas/emocionais da época. Ninguém verdadeiramente compreendeu aqueles dias, a única coisa de fato clara é o fato de que pela primeira vez na historia moderna, ‘pais’ não eram levados a sério por seus filhos, eles não mais davam as cartas.

‘Amor é o que importa, sociedade é algo para nossos pais, nosso lugar é no selvagem, lá onde somos livres, lá onde somos conectados de novo com o significado real das coisas: A completa falta de sentido, o aproveitamento do momento, liberdade de pensamento e regras da sociedade como mantidas por nossos pais’. É esse o poder do filme de Antonioni, porque captura em sua particular já conhecida sensitividade a essência dos movimentos contra-culturais daquela juventude estrangeira (estrangeira à ele pelo menos).

O Ponto Zabriskie:

O estado da Califórnia evoluído como é, também hospeda parte das mais belas paisagens do mundo. Sua vida selvagem (ou Morte selvagem para citar o próprio filme) é tão impressionante quanto o é abundante. Não é por acaso que o filme seja chamado Zabriskie Point. No topo das ‘montanhas funerárias’ no Vale da Morte, encontra-se um otimo lugar para contemplar o vale inteiro, onde um elevado mirante fora construído para esse mesmo propósito.

É lá que encontramos a razão, lá onde Morte se encontra, os personagens descobriram suas próprias vidas e mais, subverteram outro conceito predeterminado, pois onde comumente Morte se encontrava, eles forjaram vida.

Essa subversão é (durante todo o filme) discutida, primeiro na cena do “Tchau!/Alô” no telefone e concluindo-se com a re-pintura do avião.

O 'tempo' de Antonioni é peculiar, sua disposição dos personagens no espaço é para dizer o mínimo: Impressionante. Tendo tais qualidades o filme nos convida desde seu titulo à observar por diferentes pontos de vista, as raízes e razões dos feitos daquela geração em questão. Processo que é feito com sucesso e sem chamar sobre si a atenção.

Zabriskie Point termina com a completa ruptura com a sociedade como a conhecíamos. Vemos a crueza oferecida por ela; nos parece que já não consegue suportar espontaneidade, e o que era uma piada termina em tragédia.

Com o quadro todo então formado, só há uma coisa a ser feita, a única solução é a completa explosão de todas as formas de pensamento, maneiras e filosofias anteriores. E de fato elas explodem, constante e harmoniosamente, libertando se de toda restrição, numa violenta contudo necessária ‘reset’ dos pensamentos e conceitos (que não por acaso ocorrem na mente da mulher).

por all6usto Pereira