fevereiro 28, 2008

Senhores, Venham se Barbear!

Pseudo-analise de:

Sweeney Todd: O Barbeiro Demôniaco da Rua Fleet

É impossivél não começar pelas performaces...
Mas não o farei, de todo...

O Barbeiro se introduz ao filme num navio (numa performace tão surpreendente quanto o próprio ator) cantando uma música tão atual quanto assustadora. É esta a canção que justificará todas as ações do protagonista.
A música descreve as atrocidades da capital inglesa (a cidade é definida como um buraco, Como um antro de ratos e ainda descreve os habitantes como sendo "menos do que uma cospidela de porco"!).
É a essa definição que tenta nos introduzir, ridiculamente, o diretor TIM BURTON numa sequência lamentável de uma animação em 'CG' que mais parecia um "menu animado de filme do Harry Potter", mostrando (ou tentando mostrar) a cidade e a sua podridão,

Essa sequência sucede outra canção fundamental do filme, a canção onde o Barbeiro se justifica, numa tentativa de nos compactuar com sua revolta...
Também pudera, ele era um Barbeiro Famoso, tinha uma mulher (and she was beutifuuul!!!) e uma garotinha de colo. Mas quando o perverso 'Senhor da léi' o afastou de sua amada confinando-o numa prisão, estuprou e 'matou' sua mulher e ainda ficou com a filhinha do "Jhonny" pra criar... É lógico que ia dar merda.

A história gira nesse 'Conflito' mas o melhor do filme se passa à margem do drama principal. O que o filme se propoem não é fazer um musicalzinho sobre a vingança e sim questionar-nos sobre
as mesmas questões já adotadas por Burton em seus outros filmes (O papel do Amor nas relações, O sonho como escape voluntário do sofrimento cru que é a realidade entre outras tantas reflexões que ouso dizer, não são pessimistas e sim, talvez, românticas.)

Comecemos com a câmera.
O Barbeiro é muitas vezes enquadrado de baixo pra cima, no cinema antigo essa "Firulinha" surgiu para dar a impressão ao expectador de que ele está diante de uma figura imponente. Mas, arrisco dizer que essa não era principal intenção do diretor nesse seu novo filme.

Vamos aos fatos:
A filha do Barbeiro vivia presa numa torre cantando com os passarinhos. (Muito Disney pra vocês??)
Até o dia em que um marinheiro novo e romântico se apaixona por ela e jura livra-la daquele sofrimento. (Tá bom, agora é muito Disney...)
Mas o Padrasto dela não ficou satisfeito e botou o rapaz pra correr
(Se Pensarmos em 'padrasto' como o masculino de 'Madastra' acho que fica Ultra-Disney essa histórinha!!). Mas Tim Burton nos deixa outra pista, ele batiza esse rapaz com o sobrenome daquilo que os contos infantis são em sintese: "Esperança".

É esse o papel da Juventude em Sweeney Todd, servir de Ancôra para o Abismo em que Londres Havia se Tornado... Aquela coisa toda do "All We Need Is Love" que os adultos perderam.

Já o Barbeiro da Rua Fleet tinha sua propria visão do 'salvar o mundo'. Ele queria a Vingança, Trazer a Justiça à tona visto que a 'justiça dos homens' era tudo menos Justa.
(Anthony Hope é também quem resgata o Barbeiro do mar. Logo, quem reacende a esperança da vingança em Todd. Pois Finalmente ela era possível...)

'Imbuido de poder do Alto' (agora posso introduzir o comentário do enquadramento de baixo pra cima [sutíl mas funcional]), "Agora a vingança poderia se concretizar já que tenho meu instrumento", as navalhas de prata, e negando o seu proprio 'Eu' antigo. Extinguindo de si o Barker (nome antigo) que representava a esperança, o amor, a juventude...
Sweeney Todd + Navalhas de Prata (antes usadas para semeiar a beleza...) = a frase:
"Agora meu braço está Completo", nessa refêrencia ao sobre humano, a extensão ou evolução do que é o homem vitruviano... (Nossa, Viajei!!)

E por amor obtêm ajuda, Miss Lovett *Helena Bonham Carter* (numa senhora atuação) 'a mulher que prepara as piores tortas de Londres' e mantêm um amor secreto (até metade do filme) pelo protagonista sanguinário. Juntos eles escolhem as vítmas e é dela a idéia de que ele poderia ir 'praticando' com outras vítmas até que sua vingança aconteça...

"Que tal o Padre?", "Que tal o Advogado?" ou "Que tal o padeiro?", é a sequência que de fato concretiza a canção do início, "Ninguém vale mais do que um cuspe de um porco"
e é ai que nos identificamos com o Sweeney todd, ele só mata quem merece, e a vingança dele acaba sendo a vinganaça da propria Londres, que foi reduzida á um buraco habitado pela escória.
(Alguém ai já assistiu Dexter???)

Outro Questionamento iportantíssimo é que o barbeiro não caça as vítimas, elas o procuram.
Ele é a personificação do questionamento introduzido por Burton lá no 'Edward Mãos de Tesoura' com aquele: "Avon Calling"(Avon marca de Produtos de beleza mesmo). As vítimas são mortas porque se preocupam com a estética. Vaidades e vaidades e degolações diversas...
Tanto que o próprio Barbeiro convence seu inimigo à se barbear porque as mulheres adoram homens barbeados, "assim terás o amor da bela donzela".

Só entendemos o sofrimento do Barbeiro de Fato quando é introduzida a sequência do Sonho, tão destoante do filme, tão colorida, 'tão Inconsciente coletivo de Felicidade' que de fato nos perguntamos se estamos prontos pra isso... É a sequência decisiva, tanto pra nós como para os personagens, onde entendemos um pouco a privação deles diante dos sonhos que tiveram quando jovens, mas que agora parecem devaneios distântes, atraentes mas... Impossíveis.
E por fim, a fotografia retoma a cor triste saindo da frente para as costas dos persongens. É como se eles tomassem um balde de água fria nesse momento, é a razão sobrepondo o sentimento. típico dos adultos.

Antes de terminar abro um parentese para o Sasha Baron Cohen, o barbeiro rival e seu pupílo prodígio (o sagaz Ed Sanders). Numa cena complexa (a cena do duelo de navalhas em praça publica) vemos uma performace completamente surpreendete do já citado pupílo, que traz à tona: da utilidade dos cosméticos ao efetivo talento e prepotência de Mr. Todd, vencendo o charlatão e ainda o cobrando pelo corte!
Esse garotinho é a personificação dos defeitos adultos, que neles são comuns mas quando introduzidos em uma criança é que temos a dimensão deles, o garoto bebe rum! Engana, mas ainda assim é criança. Não está pronto para ver a "verdade do porão" e de fato fica absurdado ao ver os cadaveres no sub solo. (Lembrei do Cheiro do Ralo... mais isso não vem ao caso...)
Ele é também um elemento da Caridade de Lovett, quando decide 'adota-lo'.

A vingança de Todd se dá juntamente com a de Lovett, Tornar toda a podreira do mundo em algo agradavél e satisfatório (A premissa é a mesma da dos adolescentes).
A contribuição deles ao mundo é tornar toda a podrera dele em tortas deliciosas. E Nesse Instânte ele passa o questionamento pra você, "Eles são de maior serventia como escória ou como tortas delicioas?"

Sweeney Todd é essa contradição. E o Amor não é de fato uma entidade Superior à todas as coisas (Ou é?). Tanto que a personificação do amor (no filme) Senhorita Lovett, mentiu por amor, levando o homen a matar tantos, e inclusive a própria donzela amada (também por amor [?]).

E de novo o final trágico que todo universo gótico merece. "A vida é triste de mais sem o amor, e o amor é quase sempre impossível. E talvez eu me canse dele se estiver vivendo com ele por muito tempo... É... talvez seja melhor morrer mesmo." (E eu dizendo que não é pessimista...)

Em contraponto: "Há uma esperança, mas os adultos perderam..."

E a câmera assume este olhar, ohando o homem de baixo pra cima, como as crianças fazem... Cheia de dúvidas, mas ainda assim empolgadas.
é a descompreensão do amor.
Pardon me, My darling! Pardon...

Augusto SóQuê & suas divagações sobre roteiros... Quando ele vai aprender a criticar um filme direito??
No Vox, No Sound.

Ps:Recomendo a visita ao blog 13º andar, na seção KA-TET à direita>>
[encontrarás um olhar interessantissimo sobre a canção que falei no primeiro parágrafo]

fevereiro 13, 2008

Definição.O?

Eu queria poder falar sobre a INSPIRAÇÃO, mas não posso. Eu não posso codificar tal Entidade em um texto. Talvez Fernando Pessoa o possa... Mas à mim é impossível.

Quem se arriscar a prosseguir nesta leitura vã, lerá em vão.
Quem se enveredar nessa "charlatanisse" absurda, nem mesmo enganado será. Tal é a inutilidade dessas palavras nesse espaço/blog.
Mas Insisto. Devo Isso à ela, Daniela.

Quando se lê, ela vem assim:
"Sugestão, Insinuação, Conselho", ou "Inspirar - incutir, infundir, insuflar, introduzir"

O que se misturam nas definições, é :
Seja o ato de se Respirar ou Sentir uma idéia chegar, ambos os casos provêm do Invisível.

[Paulo, aguardava sentado em casa o telefone tocar.
Carla já devia ter ligado, ele sente que algo está errado, mas prefere continuar a leitura.
-Qualquer preocupação adicional não a trará de volta...- Ele pensa.
E além do mais, "deve ser tudo neura do Paulo". ]

O que parágrafo acima têm a ver com o texto como um todo??
Tudo. Senti vontade de falar desse "Paulo" e de algum modo sabia que ele estava preocupado com "Carla". Agora, quem é Carla eu não faço idéia.

Talvez Carla seja a irmã mais nova de Paulo, ou talvez a esposa dele.
Mas o texto é sobre "inspiração", e não sobre os relacionamentos sociais de um personagem...

Escrever o "parágrafo de Paulo" foi a minha ilustração sobre o que intendo sobre inspiração.
Nunca imaginei escrever uma histórinha nesse texto, e Paulo não é um personagem existênte...
Mas enquanto escrevia o texto, essa cena clichê me veio à mente:
Um homem sentado lendo um livro na sala de estar.

Acho que é o mais próximo de uma definição sobre a Inspiração que posso chegar.
Pra concluir, deixo claro que também seria inspiração se Paulo fosse um personagem já famoso, e se esse texto ja existisse, E também seria inspiração se Carla fosse quem quer que fosse.
Pois a inspiração não é o juiz do drama, ele simplesmente ilumina o caminho.

Sobre a Musa, finalizo. É a experiencia mais gratificante que se pode ter.
A expêriencia viva do concebimento de um processo criativo qualquer.

E a exaustão do final é o melhor. É como se descarregassemos de nós mil bolinhas de gude... e as ouvissemos bater contra o chão até que, por inercia, elas parem e o silêncio preencha tudo de novo.

Augusto SóQuê. No Vox, No Sound.

fevereiro 07, 2008

"As Mãos de Tesoura"

A Compreensão da Interação

e a Inevitábilidade do Inevitável.

... Reduntande como o Amor.

Um castelo Feio que me assusta e lá dentro, não por dentro mas nos jardins, vejo a beleza tão destoante do exterior, que me apaixono, não só pela beleza em sí mas pelo exótico, esse estranhamento paradoxal do Horrível e do Belo em contraponto, serve de tema.

E pra quem se arrisca a 'adentrar aos interiores', verão o que mais assusta, o espaço vazio, e as decorações que lá fora não caberiam, mas que de algum modo, não podem ser excluidas por completo. E fica assim esse interior, cheio das coisas que não se excluem, e que de algum modo são a identidade naquele montão de espaço vazio... E é ai que ele entra, todo ele. Com Garras nas mãos e aperentando tão único e exótico quanto a casa.

Me perguntaram ontem, sobre a razão de se se escrever sobre um filme tão antigo [ou não novo], e tão visto. A resposta é ainda incerta, resolvi falar não sobre o "mãos de Tesoura" mas sobre as "mãos de tesoura" não sobre o filme em si mas sobre o tema abordado ali, meio que em segundo plano pelo diretor Tim Burton.


Edward é o Romântico por Excelência. Aquele sujeitinho que toda garota diz esperar, mas sempre rejeita... Edward é tão perfeitinho, que vê arte em toda forma de intervenção sua. Não que seja pretencioso à ponto de se rotular "artista", o título é mais inerente à sua vontade do que ele imagina, é só que ele não pode viver num mundo em que não se faça enxergar. Os arbustros viram esculturas, representações de animais e pessoas... Os cabelos virão identidades, únicas assim como a sua própria (e o cabelo também).

Mas é nessa intervenção cult que ele se perde, pois mesmo com o talento que porta, a inveja que vez ou outra desperta e o estilo único que o destaca, suas "intervenções" só não o promovem, nas singelezas do cotidiano. Suas mãos/tesouras o impedem de ser sutíl em interações sociais, ele não pode jantar com aquelas mãos e tão menos pode se realionar com alguém, porque ele, diferente dos outros "normais", vê o sofrimento que pode causar às pessoas, ele compreende o fundamento do amor,do amor enquanto dependência mutua, e ainda assim divina... Para Edward é impossivel que o amor funcione pra ele, já que ele não é capaz de NÃO intervir no meio. Sempre haverá uma coisa à concertar com ele por perto, sempre haverá uma coisa à que se melhorar, há de haver intervenção e intervenção é decepção, já que mesmo que ele sempre se inove, sempre se supere e crie de fato um mundinho perfeito, ele ainda será sempre o Edward mãos de tesoura, que vive no castelo feio por fora, bonito por dentro e vazio na alma.

Então, o filme é extremamente Gótico, não falo pela a arquitetura, nem pelos conceitos caricatos provenientes da mídia, digo Gótico no que tange à onda Musical dos anos 80, Edward (além da obvia semelhança) é praticamente um Robert Smith, um Morrissey , um Ian Curtis... Pra citar os 3 maiores expoentes da onda. Analizando as letras das 3 bandas, as respostas encontradas são as mesmas apontadas pelo filme de Tim Burton: "A completa consciência do amor, contra o mar de obstáculos que se formam "Vs" à Impossibilidade do indivíduo de suprir as necessidades da Musa em contraponto com a necessidade dele de "exaurir" de algum modo esse amor... Isso é a "Love Song" do The Cure, Esse é o "-Hold-me. - I Can´t." do filme de Tim Burton, esse é o amor, descrito por quem passou tempo demais só, até que por fim o compreendeu [ou acha que compreendeu].

O final trágico é a escência do sonho gótico. É o "And if a ten-ton truckKills the both of us/To die by your side/Well, the pleasure and the privilege is mine..." de The Smiths... enfim é esse o sentimento de Urgência, muitas vezes até desconhecido pois que no Fim, "eles" sabem que é o "Love" que irá "tear Us Apart" [Joy Division*]

Talvez o amor que Edward procurava era aquele que ele teve. Aquele que nunca pudesse acontecer, e que fosse tão impossível quanto a perfeição. Pois como Kim (Winona Rider) disse em sua conclusão: "Eu nunca mais o visitei, porque eu envelheci. E é melhor que ele se lembre de mim da maneira que eu era naquela época."

Termino aqui então minha "pseudo análise" sobre o tema. Ciente de que deixei muita coisa de fora. Pena não poder falar sobre o "AVON calling" ou sobre o "Inventor". Falei portanto do que eu quiz: O Amor em Edward Mãos de tesoura. Que têm sua síntese na cena do "Roubo". Edward sabia que era errado, mas interviu assim mesmo. Fez do erro poesia, e foi da Ascensão à Queda em 30 minutos [real time]. Trocou tudo pelo amor, que nunca teve (pelo menos na intensidade que sonhou) mas que valeu todo o processo.
Augusto SóQuê

No Vox, No Sound.

ps:"Quem me vê sempre parado, calado, garante que eu não sei sambar... Tava Guardando pra quando o carnaval acabar" [rs!