fevereiro 07, 2008

"As Mãos de Tesoura"

A Compreensão da Interação

e a Inevitábilidade do Inevitável.

... Reduntande como o Amor.

Um castelo Feio que me assusta e lá dentro, não por dentro mas nos jardins, vejo a beleza tão destoante do exterior, que me apaixono, não só pela beleza em sí mas pelo exótico, esse estranhamento paradoxal do Horrível e do Belo em contraponto, serve de tema.

E pra quem se arrisca a 'adentrar aos interiores', verão o que mais assusta, o espaço vazio, e as decorações que lá fora não caberiam, mas que de algum modo, não podem ser excluidas por completo. E fica assim esse interior, cheio das coisas que não se excluem, e que de algum modo são a identidade naquele montão de espaço vazio... E é ai que ele entra, todo ele. Com Garras nas mãos e aperentando tão único e exótico quanto a casa.

Me perguntaram ontem, sobre a razão de se se escrever sobre um filme tão antigo [ou não novo], e tão visto. A resposta é ainda incerta, resolvi falar não sobre o "mãos de Tesoura" mas sobre as "mãos de tesoura" não sobre o filme em si mas sobre o tema abordado ali, meio que em segundo plano pelo diretor Tim Burton.


Edward é o Romântico por Excelência. Aquele sujeitinho que toda garota diz esperar, mas sempre rejeita... Edward é tão perfeitinho, que vê arte em toda forma de intervenção sua. Não que seja pretencioso à ponto de se rotular "artista", o título é mais inerente à sua vontade do que ele imagina, é só que ele não pode viver num mundo em que não se faça enxergar. Os arbustros viram esculturas, representações de animais e pessoas... Os cabelos virão identidades, únicas assim como a sua própria (e o cabelo também).

Mas é nessa intervenção cult que ele se perde, pois mesmo com o talento que porta, a inveja que vez ou outra desperta e o estilo único que o destaca, suas "intervenções" só não o promovem, nas singelezas do cotidiano. Suas mãos/tesouras o impedem de ser sutíl em interações sociais, ele não pode jantar com aquelas mãos e tão menos pode se realionar com alguém, porque ele, diferente dos outros "normais", vê o sofrimento que pode causar às pessoas, ele compreende o fundamento do amor,do amor enquanto dependência mutua, e ainda assim divina... Para Edward é impossivel que o amor funcione pra ele, já que ele não é capaz de NÃO intervir no meio. Sempre haverá uma coisa à concertar com ele por perto, sempre haverá uma coisa à que se melhorar, há de haver intervenção e intervenção é decepção, já que mesmo que ele sempre se inove, sempre se supere e crie de fato um mundinho perfeito, ele ainda será sempre o Edward mãos de tesoura, que vive no castelo feio por fora, bonito por dentro e vazio na alma.

Então, o filme é extremamente Gótico, não falo pela a arquitetura, nem pelos conceitos caricatos provenientes da mídia, digo Gótico no que tange à onda Musical dos anos 80, Edward (além da obvia semelhança) é praticamente um Robert Smith, um Morrissey , um Ian Curtis... Pra citar os 3 maiores expoentes da onda. Analizando as letras das 3 bandas, as respostas encontradas são as mesmas apontadas pelo filme de Tim Burton: "A completa consciência do amor, contra o mar de obstáculos que se formam "Vs" à Impossibilidade do indivíduo de suprir as necessidades da Musa em contraponto com a necessidade dele de "exaurir" de algum modo esse amor... Isso é a "Love Song" do The Cure, Esse é o "-Hold-me. - I Can´t." do filme de Tim Burton, esse é o amor, descrito por quem passou tempo demais só, até que por fim o compreendeu [ou acha que compreendeu].

O final trágico é a escência do sonho gótico. É o "And if a ten-ton truckKills the both of us/To die by your side/Well, the pleasure and the privilege is mine..." de The Smiths... enfim é esse o sentimento de Urgência, muitas vezes até desconhecido pois que no Fim, "eles" sabem que é o "Love" que irá "tear Us Apart" [Joy Division*]

Talvez o amor que Edward procurava era aquele que ele teve. Aquele que nunca pudesse acontecer, e que fosse tão impossível quanto a perfeição. Pois como Kim (Winona Rider) disse em sua conclusão: "Eu nunca mais o visitei, porque eu envelheci. E é melhor que ele se lembre de mim da maneira que eu era naquela época."

Termino aqui então minha "pseudo análise" sobre o tema. Ciente de que deixei muita coisa de fora. Pena não poder falar sobre o "AVON calling" ou sobre o "Inventor". Falei portanto do que eu quiz: O Amor em Edward Mãos de tesoura. Que têm sua síntese na cena do "Roubo". Edward sabia que era errado, mas interviu assim mesmo. Fez do erro poesia, e foi da Ascensão à Queda em 30 minutos [real time]. Trocou tudo pelo amor, que nunca teve (pelo menos na intensidade que sonhou) mas que valeu todo o processo.
Augusto SóQuê

No Vox, No Sound.

ps:"Quem me vê sempre parado, calado, garante que eu não sei sambar... Tava Guardando pra quando o carnaval acabar" [rs!

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