abril 05, 2008

Um Ciborgue, mas Tá legal

"por detrás

das máscaras sociais

é que vivem os tais,

motivos surreais."

I´m a Cyborg But, that´s OK.
de Chan-wook Park

Falando com um amigo músico, ouvi dele os dizeres: Aonde foram os gênios? Onde estão os garotos-prodígio? Logo logo a conversa 'tombou-se', da música ao cinema. Ele me fez as mesmas perguntas e a resposta foi simples. Afinal, eu tinha convenientemente assistido a "I´m a Cyborg but that´s Ok!" na vespera...

É difícil pra mim, como indivíduo do ocidente, avaliar as intenções de Park (ou de quem quer que seja) com alguns planos ou diálogos, considerados à primeira vista excessivos, [julgados assim pelo motivo apontado e ajudado pelo tema do filme.] mas o resultado é instigante, proporcionando uma viagem infantíl ao esteriótipo, em contraponto à crítica 'descarada' à sociedade contemporânea.
A mecanicidade das relações humanas, a desumanidade proporcionada pelo capitalismo e a desestrutura familiar são questões trabalhadas aqui. Abordadas de maneira tão delicadamente irreais que torna impossível qualquer previsão. O que leva-me novamente à questão cultural [Questão enquanto conflito entre um expectador bitolado, vítma do proselitismo 'cultural' norte-americano e uma obra à princípio regional, mas que se espande de tal forma, que é capaz de retratar os sentimentos mais profundos de um cidadão qualquer daqui.] entende-se o problema, compartilha-o também, mas talvez essa 'viseira' nos impeça de maximizar a tal proximidade e o tal compartilhamento dos mesmos... [Pena.]

Chan-wook Park reestrutura seu mundo [drástico, pra variar] numa contradição, quando seus personagens finalmente são tidos como 'doentes', eles são inofensivos... [contraponto com as outras obras de Park] temos a protagonista, tão carente, tão acostumada a não ser um humano, a não se encarar como tal que se assume 'ciborgue'. Mas Park é irônico, já que a coitada da personagem vai prum hospício. Explico, a irônia está no ícone. A ciborgue é nada mais do que a representação do indivíduo contemporâneo. Sem tempo pra 'ser' humano, sem tempo pra ser amado, sem tempo pra questionamentos existêncialistas, assume-se uma verdade: 'Não tenho tempo pra isso', e vive-se, normalmente, sendo escravo de um trabalho, escravo de um estilo de vida, etc.

Se o filme é um sarcarso só, a camera é sem dúvida o dedo de Park, enumerando as absurdas situações, mostrando minunsiosamente os segredos. Não fui redundande aqui. Simplesmente descrevi uma das peculiaridades desse diretor fascinante. Chan-wook Park não intervêm na ação, ele as aponta. Não quer se fazer presente, e até nos engana com umas ou outras subjetivas estratégicas, o que ele faz é simplesmente apontar. [Me lembrei das sequências de luta de 'Old Boy', (sem dúvida as melhores que já vi) onde ele não faz a 'câmera de vitma' (como fazem quase todos os diretores em sequências assim) simplesmente correndo ao lado do protagonista, sem intervir, sem cortes milaborantes]
"Reestrutura seu mundo numa contradição", foi exatamente o que ocorreu com a personagem, e com o próprio filme, na sequência de introdução ao Hospício: Vemos uma 'senhora amigável', introduzindo todo o ambiente, introduzindo os personagens com sinopses curtas sobre a vida de cada um até o momento que a enfermeira 'desmascara' a tal mulher. A mulher era um dos internos e o Narrador estava mentindo, ou melhor, não sabia a verdade, e prosseguiu.
Analogias aos 'Homens de Branco' (enfermeiros-médicos-etc) como os 'senhores da lei' são feitas... Mas não posso me estender a isso. Vale relembrar as doenças dos internos, realmente cômicas... [Andar pra traz, ser gentil de mais, etc]

Com as questões lançadas, as respostas vieram. [eu adoro quando isso acontece] Tão incertas e não confiavéis quanto o próprio filme. Mas o importânte é que elas vieram, e ainda melhor: elas são tão incertas e não confiáveis quanto o próprio filme!! Ilustro com o personagem conhecido como 'Ladrão'. que é capaz de roubar tudo, de todos. A princípio 'viram' nele um delinqüente [falo, obviamente do julgamentos dos outros loucos] mas devido a algumas circunstâncias, ele se torna um herói. Ao roubar a educação de um homen atordoado por ser muito educado. Ao roubar a piedade de um ciborgue preso em certas facetas humanas... É a essas 'respotas' que dou enfase: Seriamos mais felizes sem as máscaras? A que 'virtude' sou escravo? Seria de fato melhor viver sem elas? Melhor pra quem? As abondonamos até tornarmos um ser não humano, um robô, 'até ser Um ciborgue, e estar legal assim'.

Com exageros estranhos, ao ocidente ao menos, "I´m a Cyborg, but That´s Ok" é um filme complexo. Incerto, e surpreendentemente classificado como 'comédia'. Devo adimitir que quase não ri. Assustei-me com o teor crítico do filme, e encantei-me com a solução apresentada por ele. Transformando aquilo de humano que gradativamente abandonamos, naquilo que até então não somos capazes de abandonar, abordando como ferramenta de estranheza. Afinal mesmo mecânicos, rotineiros, previsíveis, os homens precisam comer. Ainda sonham com a liberdade, com o 'troco' ao governo... Encerramos com uma sequência tão bela quanto estranha, fruto da busca fundamental da contemporaneidade: O Amor, e o Metafísico. Ali representados pelo rádio (a antena estendida ao teto/céu, e que diz os 'próximos passos') e o amor mesmo.
À distância, apontamos pro vulto dos personagens, que se beijam e fazem amor... Mas nós não precisamos ver isso. E Park simplesmente aponta.

Augusto SóQuê, Sumindo...
No Vox, No Sound, No Previsão!!!