março 28, 2008

Kelly Tales

Southalnd Tales
De Richard Kelly

Toda sorte de ‘pós’ é inexplicável.
O pós-Guerra, citando o pós-Grunge, virando à esquerda no pós-punk... Todo o ‘pós’ é confuso, contraditório e 'ainda sem saber direito o que é'. Assim também é o mundo apresentado por Richard Kelly. Afinal Southland Tales é nitidamente um filme pós Donnie Darko! [não falando da história, obviamente]

Comecemos por tópicos:

Atuações.
Precisei falar delas...
A idéia maluca de juntar, num filme claramente não comercial, atores oriúndos de filmes como ‘Scorpião Rei’ (The Rock) e ‘American Pie’ (Seann William Scott) é tão surreal que nem em um filme claramente comercial a idéia deu certo, ‘Bem vindo a Selva fez lá sua cota mas não serviu de incentivo pra ninguém mais arriscar. Kelly fez o mesmo em Donnie Darko, apostando no protagonista de ‘Dirty Dance – Rítmo Quente’ (Patrick Swayze) e na protagonista de vários filmes 'teens', Drew barrymore. A diferença é que em Donnie Darko, eles não eram protagonistas e nem decepcionaram. Muito pelo contrário, calaram a boca de meio mundo com atuações marcantes. Por outro lado, em Southland Tales, a direção delicada de Richard Kelly não conseguiu alterar o inalterável, The Rock representando um personagem é triste, pra piorar ele faz dois papéis. ‘Um como The Rock’ o outro como ‘The Rock, jogando Imagem & Ação’. William Scott, foi até bem, quer dizer, bem até o momento em que o filme pediu um enquadramento frontal. E ainda tinha o ‘Justin Timberlake’ num complexo papél de ‘Justin Timberlake com barba e cicatriz’. Mas quem sou eu pra falar...

Pra piorar:
O roteiro é 'pirado' (pra variar). A idéia era começar o filme (de 6 partes) da parte 4 [Fizeram isso uma vez, Numa Galáxia Muito Distânte...] e lançar em quadrinhos as partes 1,2 e 3. Feito isso, era só o público escolher entre a sensação de repetir as noites de insônia (falo de Donnie Darko) ou evita-las já indo pro cinema sabendo em que 'pé a história estaria' (presunçoso esse cara...).

Diferente de Donnie Darko, agora a trama não parte do indivíduo para o mundo, em Southland Tales a situação têm proporções globais. Existe um vilão, ou um grupo disso. O mundo é o caos; guerras, tecnologia e uma nação que perdeu em algum o lugar a própria refêrencia. E é ai que o filme assume um tôm ‘nonsense’, transitando entre um (personagem de) Mike Miers e um (filme de) Terry Guilliam.

O ano é 2008, mas é tão ‘12 macacos’ o visual, que é inevitável não cobrar por coerência, só não o fazemos por pseudagem mesmo, já que o filme justifica-se [e talvez até se sustente] numa frase dita pelo 'protagonista' (algo como apelar pela velocidade da evolução tecnologica) mas o fato é, se foi uma crítica é uma crítica reciclada, do prórpio Guilliam.

e finalmente: a Revolução do Sexo!
Justificada na máxima:"O ser humano não precisa de hipocrisias num mundo pós 3° Guerra Mundial". Como se todos já soubessem que não vivem mais na época de ouro... O engraçado é um discurso feito num diálogo de prostituas onde reclaman que a culpa de tudo pertencem aos ‘Nerds’, já que ficam sentados 'lá' discutindo o que todos os outros têm de fazer (princípios e leis a se seguir, etc.) Mas sinceramente não quero falar sobre metalinguagem aqui.

Southalnd Tales é um daqueles filmes em que não se têm certeza se o odiou realmente, ou se só não foi como esperava. A certeza é só uma: Foi prazeroso.
lembrando da páscoa...
Southland Tales é tão bom quanto um ovo de páscoa bem grande. Muito bom, prazeroso, mas enjoa.

A habilidade de Richard Kelly de filmar multidões é descomunal, é realmente bela a forma com que filma os planos sequências. Aliás ‘planos sequências’ se tornaram uma de suas assinaturas merecidas, pois ele os conduz de uma forma única, lírica, transformando-os quase num sonho, unindo de forma maestral o audio e a imagem até que a gente quase se esquece da trama, simplesmente entrando na onda dele. [Destaque para a cena da festa no fim do filme.]


É um filme rico em linguagem, começando pela abordagem em digital da primeira cena.
Aquela ‘filmagem caseira’ feita por ‘uma criança’ no quintal de sua casa em sequência com a explosão da Bomba Atômica. É dificil encontrar este nível de bom senso para distinguir entre o ‘amador’ e o ‘imbecíl’, digo isso pelo resultado que se tem quando outros cineastas tentam utilizar a subjetiva de um amador, conseguindo um resultado realmente ridículo. Kelly conseguiu nessa cena [destaque pro camêra] algo sutíl e belo e ainda assim com ares de ‘feito em casa’.

Apontar trechos é desnecessário, já que é repleto de momentos brilhantes, planos pensados, oscilando entre o lírico e o cru, entre um ‘homen que cai do telhado na lata de lixo’, sem cortes, a 'um ex-soldado numa viagem psicodélica tendo seu próprio show na Broadway'. Entre o capote da van, tão empolgante, até uma discussão 'política' entre uma prostitua e um politíco via internet. o filme é uma grande queda de braço entre o diretor brilhante e seu equívoco.

Termino destacando outra das assinaturas de Kelly, o uso do ‘tosco’ como ferramenta do lúdico. Aqueles efeitos ‘mal feitos’ de Donnie Darko, que Kelly até que tentou consertar na sua versão do diretor mas por fim percebeu (como comprova em Southland Tales) que é uma ferramenta pessoal e muito intrigante. Não sei nem como apontar as razões pelas quais isso funciona tão bem, só sei que se torna algo tão atraente (quando dosado, obviamente) que de fato cria um clima de estranheza e cumplicidade.

Um filme que se assume como entidade não humana, tanto que todas as introduções são feitas por um banco de dados (ou TV), além de usar a bíblia como ferramenta que anuncia um final épico e inevitável, mais um Deus Ex-Machina pra coleção dele. Aliás Richard Kelly consegue de novo usar esse artifício tão odiado no mundo moderno, como ferramenta de cumplicidade entre o expectador e personagem. E o fim é recompensador, enigmático mas (de novo) esclarecedor e principalmente porque o filme continua, mesmo depois dos créditos. Epifania pura, é o que Kelly consegue fazer com seus climax, até quando investe numa causa perdida.

Augusto SóQuê
No Vox, No Sound

março 27, 2008

Cansei do meu 'char'

Sol Poente

Qual criatura ou elemento
repleta de azar e tormento
merece por lei do universo
jamais conhecer o completo
o momento em que o sol se poem

tal entidade não sabe
e tua alma não exprime
a grata verdade sublime
que o sol deixa ao se por.

tal cousa é inomeavel
pois nunca vê o sol ir
tal criatura é o sol
que cansando de si,
nunca pode partir.

Augusto SóQuê, No Vox, No Skills.
(Livro ainda não publicado)

março 06, 2008

.Cura pro Mundo.

Mais Uma Pseudo-Analise...

Almas Passantes
(de Ilana Feldman e Cleber Eduardo.)

Bula:
*João Do Rio:
Cronista carioca do início do século XX.
*Charles Baudelaire:
Poeta francês de meados do século XIX.

O Curta nos apresenta a situação:
'Charles Baudelaire' e 'João do Rio' estão no Rio de Janeiro...
Não, Não senhor, no Rio de Janeiro de Hoje!"

Interjeições à parte, procuremos entender a suposição. O francês têm dificuldades, cultura estranha, e não digo pela completa desconectividade temporal entre o personagem e o espaço (não ainda...) digo pessoas estranhas, etc.
O carioca se sente em casa, tudo é comum, digo até que vi um esforço inseguro dele, de se mostrar "de casa". Mas o estereótipo vale. o cronista é sim um entendedor do Rio e isso é inegável.

A discussão que se propõem é tão complexa quanto óbvia.
Até que ponto a Intervenção do Autor no meio é positiva?
(E como seriamos sem elas?) Tanto que em um dialogo entre os dois protagonistas (comendo num boteco!!) Baudelaire afirma a João do Rio:
"Nós transformamos o lixo em ouro!"

Com essa deixa, posso finalmente falar daquilo que mais se destaca no filme:
Os personagens vagavam pelas ruas (com os trajes oriundos de seu período histórico) à procura de tudo. E a camêra procura essas procuras, é urgente, é documentárista é primeira pessoa, é "na mão"... Procura os detalhes de tudo, expressões, transeuntes, lugares comuns...


Pra João a Arte está no que é. Mas para Baudelaire, é preciso esmerá-la mais. É então que a parte do filme que cabe as impressões do poeta francês assumem, em todo, a poesia como guia, utilizando como ferramenta o idioma dele. (Que não por acaso é mundialmente aceito como o idioma das artes, do amor, das sutilezas...)
E chega a ser hilário ouvirmos um 'Funk Carioca à Francesa', um artista de praça cantando também em francês,(...), e magicamente o clima se formou, temos arte em tudo. Desde o ordinário (comum) até o exótico.

Há ainda um plano recorrente, de Baudelaire caminhando numa calçada cheia de lixo ensacado. Mas é tão sutil que nem sei se esse plano aconteceu mesmo mais de uma vez, ou se só é recorrente pra mim... Enfim, é essa a confirmação do dialogo no bar. A cidade por si só é suja. Mas mesmo sabendo disso, João do Rio ainda a ama... E Charles Baudelaire conseguiu ver poesia nela...
Já que limpa a cidade não ficou, o que fez dela tão poética?

Arrisco dizer:
Se caminhássemos pela calçada suja do filme, 'talvez' a acharíamos repugnante...
Porém a observando pelo filtro da Arte, Lá da sala de Cinema, ela me pareceu simplesmente... contextual.


Augusto Só Quê e seu desfeixo completamente vago e sem sentido...
No Vox, No Sound.